Ter sempre uma imagem forte, imponente e inabalável. Para muitos, chorar é algo visto como um sinal de fraqueza.
Não é fácil ter controle emocional, e muitos sentem vergonha em chorar na frente de outras pessoas. Chorar pode significar que alguém tomou consciência sobre um trauma, e pode representar também, uma forma de superação. Tanto a psicanálise quanto a psicologia consideram que tomar consciência sobre algo que incomoda, dá a chance de superar tal sentimento. Porém, o ato de chorar não significa necessariamente livrar-se por completo de um trauma. Isso pode variar de acordo com as circunstâncias:
o choro pode ajudar no processo de superação, pois, ao chorar temos conhecimento de que há um problema;
o choro pode também, trazer temas para serem analisados. Quais as razões para que o afeto ou emoção tenham importância? Por que chegaram ao ponto de provocar o choro?
Nas duas situações acima, chorar dá mais chances para que alguém tenha mais consciência para, então, começar a pensar em uma mudança. Contudo, é importante considerar que o choro pode seguir também um padrão e ser repetitivo:
quando se chora como ato de resistência ao reconhecimento ou enfrentamento de um problema; ou
quando se chora para aliviar de forma temporária algo que pede mudança, mas sempre é adiado.
É possível imaginar o choro como consequência do conhecimento de um trauma (uma vivência significativamente dolorosa), mas também é possível aplicar a mesma lógica para situações de padrões comportamentais, pensamento e resistências, sem vínculo com um evento traumático.
Uma boa forma de pensar o choro na terapia (ou em momentos onde alguém informa ter chorado) é considerá-lo como um sinal de afeto/emoção por algo que possui importância e pede atenção. Tendo isso mente, é aconselhável buscar as possíveis razões que envolvem este choro.
Algo bastante comum é quando um adulto responsável dá ordem para que uma criança “engula” o choro. Quando o choro é bloqueado, ainda que durante infância, há mais chances para o desenvolvimento de mágoas. Chorar é uma forma de trazer o que incomoda para o externo, e possibilita ao individuo processar o significado do que está sentindo.
A tristeza e o choro estão presentes no desenvolvimento de todas as pessoas, e por esse motivo, não é recomendado reprimir o que se sente, impedindo que o choro traga alivio ao sofrimento.
Certamente você já deixou de demonstrar o que sentia para as pessoas, no entanto, todos precisam sentir as emoções a fim de compreender melhor as suas vivências. Em diversos tipos de psicoterapia, quando alguém reprime as suas emoções, está correndo o risco de se anular sem ter conhecimento do que essas emoções significam.
Ouvir as próprias emoções com a intenção de entendê-las e respeitá-las, permite o desenvolvimento do autorrespeito e uma convivência mais saudável com as outras pessoas. Para que isso ocorra, as emoções e o choro precisam ter espaço e respeito. No início pode ser um pouco desconfortável reconhecer as próprias emoções, mas fazer isso é um gesto de amor-próprio e autocuidado.
Por Renato Petik - Psicoterapeuta especialista em Psicanálise e Psicologia Transpessoal